Nasci em 1945. Poucos meses depois, explodiram as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Nem sei como a notícia deve ter chegado lá pelas bandas do Garupá, interior do município de Quaraí, onde meus pais moravam. Sei, sim, que o evento marcaria a minha geração do pós-guerra.
A corrida armamentista estava posta. Logo, a união das Repúblicas Socialistas Soviéticas teria também artefatos nucleares. Veio ainda a bomba de hidrogênio, mais poderosa. Reino Unido, França, China produziram suas armas nucleares. Índia, Paquistão e Coreia do Norte assumem possuir ogivas nucleares. Outros países, entre os quais Israel, teriam bombas nucleares ou, pelo menos, possuem a condição de fabricá-las.
Ao mesmo tempo, o campo de nações que haviam lutado contra o nazi-fascismo na Segunda Grande Guerra, dividiu-se por motivos ideológicos e instalou-se durante décadas a Guerra Fria entre capitalistas e socialistas.
A minha geração cresceu assim, tensionada pelo risco da nova guerra mundial, com hecatombe nuclear. O ambiente psicossocial da juventude de então levou ao “rock-and-roll”, ao movimento hippie, bem como outras formas de protesto e alternativas pacifistas e contestatórias a essa tensão bélica. Foi uma geração angustiada nos seus verdes anos (vivemos um tempo de guerra, um tempo sem sol).
Em 1970, o Tratado de Não Proliferação das Armas Nucleares iniciou uma caminhada na tentativa de controlar a expansão armamentista com a tecnologia atômica. Nem todos assinaram e alguns adquiriram a capacidade tecnológica depois. As grandes potências preservaram seus arsenais e só mais tarde fizeram tímidos movimentos de redução.
Eventos como a criação da União Europeia e a ascensão da China alteraram um tanto o conflito bipolar entre Estados Unidos e URSS. E, quase ao final do século, as repúblicas soviéticas encontraram novos caminhos autônomos em relação à Rússia. Esta encerrou a experiência bolchevista iniciada com a revolução de 1917 e o Muro de Berlim, símbolo da divisão da Alemanha após a segunda Grande Guerra, veio abaixo e hoje está reunificada. Era o fim do período agudo de Guerra Fria, alguns apressados chegaram a prever o “fim da história”, sem levar em conta que, enquanto houver humanidade, haverá história, seus avanços e recuos, ciclos, conflitos.
E chegamos ao Terceiro Milênio no calendário ocidental. Um tempo de paz? Que nada! A preocupação passou a ser que ogivas nucleares pudessem cair em perigosas mãos de terroristas altamente organizados, que espalham medo e matanças pelo mundo afora.
Para completar, dois desatinados chefes de Estado resolvem trazer para a agenda novamente a possibilidade de uma guerra nuclear. E um deles é nada menos do que o governante da principal potência com o maior arsenal nuclear. Pobre geração de quem tem seus 80, 70 e 60 anos! Crescemos na angústia pelo risco da tragédia nuclear e no ocaso da vida vemos retornar a tensão mundial. Juízo, por favor, senhores da guerra.